Entrevista com Jean-Pierre Barral

Jean Pierre Barral

COMO SE DEU A SUA TRAJETÓRIA, DE FISIOTERAPEUTA ATÉ SE TORNAR UM PALESTRANTE E OSTEOPATA PROFISSIONAL BEM CONHECIDO?
Tive muita sorte porque trabalhei em Grenoble, num hospital especializado em doenças cardíacas e pulmonares, onde efetuei muitas dissecções. Isso foi fundamental para mim porque quando eu estudava osteopatia, me parecia um pouco mais fácil acreditar que tudo derivava da coluna. Durante as sessões de dissecção, eu tinha a oportunidade de ver sequelas de pleurisia associadas a segmentos adjacentes da coluna e à deformação dos processos transversais. Passei a prestar atenção ao modo como a tensão de um órgão pode ter um efeito profundo, mesmo sobre o sistema ósseo. E essa foi essa a direção que tomei, porque, na osteopatia, tudo é importante, todas as células são importantes, portanto devemos nos lembrar de que não podemos nos concentrar apenas em uma parte do corpo.

COMO O SENHOR MANTÉM E ATUALIZA O SEU CONHECIMENTO DE ANATOMIA?
O meu decano e chefe era muito exigente. Durante quatro anos, eu fazia cerca de uma dissecção por semana. Naquela época, eu era fisioterapeuta. Ele me encorajou a aprender o máximo possível com os médicos sobre os órgãos, e a participar das sessões de dissecção por eles promovidas. No início, eu não gostava de anatomia porque estava muito concentrado na filosofia. Agora, eu adoro anatomia! Todas as semanas, sem falta, eu estudo anatomia por três horas.

COMO O SENHOR DEFINIRIA UM BOM OSTEOPATA?
Um bom osteopata é modesto porque também estamos sujeitos a falhas. Ele é curioso e tem a mente aberta. Ele deve se concentrar na osteopatia e evitar misturas com outras abordagens terapêuticas, como a acupuntura, a hipnoterapia, o herbalismo etc. Devemos seguir a afirmação de Dr. Still no final da vida: “tente mantê-la pura”! O conselho dele é um conceito muito importante para mim! Tornar-se um osteopata é antes de tudo uma evolução, e não um fato! É necessário se desenvolver e tentar evitar a rotina. As repetições do nosso trabalho podem ser um caminho mais fácil, mas eu sigo um caminho mais integrado ao tratar dos meus pacientes com as abordagens cranial, visceral, estrutural e HVLA porque estou interessado na pessoa que vem até mim para ser tratada.

O SENHOR ACREDITA QUE A OSTEOPATIA PODE MUDAR O OSTEOPATA?
A osteopatia muda a vida! Por causa da osteopatia, compreendemos um pouco mais sobre o que é uma pessoa, sobre a vida de uma pessoa. Isso não é fácil porque todos nós temos muitas tensões em nossas vidas privadas e profissionais. De alguma forma, aprendemos a respeitar mais. No início, somos um pouco arrogantes, acreditando que dispomos do conhecimento ou que nos sentimos importantes. Porém, depois, nos tornamos mais reais e nos damos conta das implicações do ser humano.

QUAL É A SUA OPINIÃO DIANTE DA PERSPECTIVA DE VISITAR O BRASIL E ENSINAR LÁ?
Já estive no Brasil. Estou ciente do conflito entre os fisioterapeutas e os osteopatas. Eu já fui fisioterapeuta, assim como todos os outros colegas franceses, antes de viajarem para a Inglaterra, para estudarem osteopatia, porque não havia escolas de osteopatia na França. É por isso que, ocasionalmente, precisamos respeitar um pouco mais as nossas origens. Precisamos do conhecimento da fisiologia e da anatomia. É óbvio que, em algum ponto da vida, o fisioterapeuta tem de fazer uma opção pela profissão a seguir. Não é bom se ele fizer um pouco de massagem ou de manipulação,etc. Nós, osteopatas, devemos exercer a osteopatia, mas ao mesmo tempo, como eu disse anteriormente, devemos respeitar as origens da trajetória profissional de uma pessoa. Os franceses gostam muito dos brasileiros. Estou ansioso por conhecer os brasileiros no Brasil e de ter a oportunidade de trabalhar lá. Sempre que eu ensino, aprendo muito por causa do intercâmbio e estou na expectativa de ter esse intercâmbio com os osteopatas brasileiros. Será, portanto, um prazer enorme conhecê-los. Acredito que o futuro da osteopatia está na América do Sul.

COMO O SENHOR ENCARA A ATUAL PESQUISA OSTEOPÁTICA?
Eu a encaro como um progresso positivo, mas é difícil comprovar algumas descobertas osteopáticas. Não podemos falsificar nem mentir sobre as nossas descobertas. Precisamos considerar o quão subjetivo isso pode ser. As nossas mãos e a nossa palpação são diferentes, assim como os nossos pacientes. O meu trabalho não segue as diretrizes de qualquer universidade. O meu trabalho consiste em auxiliar os pacientes que estiverem sofrendo.

O SENHOR ESTÁ EFETUANDO ALGUMA PESQUISA ATUALMENTE?
Fizemos pesquisas sobre o refluxo entre o pâncreas, o fígado e o estômago, usando ultrassom. Atualmente, faço uma pesquisa sobre o sistema vascular e os discos lombares usando ressonância magnética.

EM SUA OPINIÃO, QUAL SERIA A IMPORTÂNCIA DE QUE OUTROS GOVERNOS SEGUISSEM ESSE EXEMPLO E RECONHECESSEM OS SEUS OSTEOPATAS?
Para mim, se um país reconhecer a osteopatia, outros também deverão reconhecê-la. Na França, no início, tivemos um processo insatisfatório de reconhecimento. O governo francês mudou e, agora, a osteopatia é reconhecida. O governo também está tentando diminuir o número de escolas. Havia 76 escolas na França e esse número é excessivamente alto. Diversas regras foram introduzidas para serem seguidas pelas escolas, inclusive o aumento da duração do curso, para cinco anos. Como somos oficialmente reconhecidos, o paciente que procura o osteopata vai querer saber se ele foi formado adequadamente e se é competente. O paciente precisa saber se o treinamento do osteopata foi adequado e se ele também está cumprindo o programa de treinamento para desenvolvimento contínuo. Muita gente se autodenomina osteopata, mas essas pessoas estão apenas efetuando algumas poucas técnicas osteopáticas. Ser um técnico não significa que a pessoa seja um osteopata! Existem conceitos osteopáticos, a filosofia osteopática desenvolvida pelos doutores Still, Sutherland e por Magoun, entre outros. É importante transmitir esses conceitos para os alunos de osteopatia, para que os sigam. A prática da osteopatia é muito agradável, mas também requer muito esforço! É necessário trabalhar a vida inteira e só no final da carreira é que se compreende o significado da osteopatia. É importante continuar e jamais se deter, ser um osteopata determinado. Pessoalmente, gosto de ensinar porque, quando estou ensinando, quero que os alunos aprendam, mas também somos responsáveis por desenvolver osteopatas com boas mãos, que podem atuar com êxito junto aos seus pacientes.